Sergipe é destaque no Nordeste por abrigar uma das maiores reservas de carbono azul da região, com cerca de 38 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO₂) armazenadas em seus manguezais. Esse potencial representa uma oportunidade valiosa para o estado: se convertido em créditos de carbono no mercado voluntário, o valor pode alcançar R$ 983,4 milhões. Em um cenário mais otimista, com a tonelada de CO₂ sendo precificada a 100 dólares, esse montante pode chegar a impressionantes R$ 21,3 bilhões.
Os dados integram o estudo “Oceano sem Mistérios: Carbono azul dos manguezais”, realizado pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza em parceria com o projeto Cazul, do Rio de Janeiro. A regulamentação do mercado de carbono no Brasil, através da Lei 15.042/2024 aprovada em dezembro do ano passado, fortalece a transição para uma economia de baixo carbono, impulsionando o interesse na conservação de ecossistemas costeiros, como os manguezais.
Apesar do valor ambiental e econômico, os manguezais enfrentam ameaças crescentes, como desmatamento, poluição, ocupação irregular e a expansão de atividades como aquicultura e agricultura. O Brasil, que possui a segunda maior faixa de manguezais do mundo, já perdeu cerca de 25% de sua vegetação original nesse ecossistema.
O professor Alexander Turra, do Instituto Oceanográfico da USP e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN), destaca que proteger os manguezais significa manter benefícios como a proteção da linha de costa, a manutenção da produção pesqueira, a conservação da biodiversidade e a geração de renda para comunidades tradicionais. “Além disso, os créditos de carbono são uma estratégia para financiar a conservação dessas áreas”, afirma.
No Brasil, os manguezais armazenam, ao todo, 1,9 bilhão de toneladas de CO₂, com potencial de gerar até R$ 48,9 bilhões em créditos no mercado voluntário. O Nordeste concentra 197 municípios com manguezais, onde vivem cerca de 20 milhões de pessoas. A cada ano, estima-se um acréscimo de 2,9 milhões de toneladas ao estoque de carbono azul, o que pode representar mais R$ 75,2 milhões anuais.
Segundo o estudo, os manguezais desempenham papéis essenciais como berçários marinhos, filtros naturais que retêm poluentes e barreiras contra erosão costeira e inundações. Esses ecossistemas contribuem com a segurança alimentar, protegem comunidades costeiras e armazenam carbono em suas estruturas e solos, ricos em matéria orgânica e pobres em oxigênio, o que retarda a decomposição.
A diretora da Fundação Grupo Boticário, Malu Nunes, reforça que políticas públicas, planejamento urbano e ações privadas devem priorizar a proteção dos manguezais. “Esperamos inspirar ações concretas que fortaleçam a conservação desse ecossistema vital para o planeta e para as comunidades que dele dependem”, disse.
A conservação dos manguezais, além de ambientalmente necessária, representa uma oportunidade econômica estratégica para Sergipe e todo o Brasil.